Apresento o Diário de Bordo do Projeto Raízes do Brasil. O diário é um trabalho do campanheiro Guilherme Almeida, do CUCA de Cuiabá. Estivemos juntos na missão de conhecer a região e compreender a história dos combatentes de Canudos, no verão de 2009. Nossa equipe também contou com Vanessa Stropp.
(Estamos todos aqui na produça da Semana do Calouro, pra não ficarmos enchendo seu saco com o mesmo assunto sempre postamos aqui hoje o Diário de Bordo do Projeto Raízes do Brasil – uma verdadeira viagem pela cultura tradicional deste país feitas pelos cuqueiros em janeiro. Vê aê!)
Durante a VI Bienal da UNE foi possível o contato entre estudantes interessados em cultura, arte e ciências de todo país. Mesmo com vários contratempos durante o evento, muitos cuqueiros conseguiram se unir. Isso se deu em muitos momentos, conto aqui aquele do qual participei.Dia 26/01
Estabelecemos sem muito planejamento (quase nenhum na verdade) uma viagem para o sertão, a fim de reconhecer uma realidade diversa da turística exportada pelo mundo a fora do litoral baiano. O tema abordado foi a Guerra de Canudos. Esta viagem foi para dar continuidade ao tema da Bienal e também para estabelecer uma proximidade entre os cuqueiros mochileiros do sertão. A idéia foi do Rafael que estava cansado de Salvador e queria parceiros para uma aventura com sabor de sertão.
Dia 27/01
A viagem se inicia saindo de Salvador para Monte Santo. A viagem começa na hora, sem atrasos, até que 1h e 32minutos da saída o pneu do ônibus fura. Começam os atrasos e as dificuldades da viagem, as perturbações foram apenas os transportes da região. As cidades que tiveram participação na Guerra foram: Monte Santo, Uauá, Euclides da Cunha e Canudos. Monte Santo é a cidade onde as tropas do Exército da República de alojaram antes do massacre.
A Guerra ou Massacre de canudos é um das histórias mais fortes do país, pois uma população pacata e rural que se une em volta de um visionário, Antonio Conselheiro que por motivos religiosos e sócio-econômicos e políticos se desentendem com as autoridades que os acusaram de monarquistas. A Guerra se dá entre 1896 e 1897, acabando em 5 de outubro de 1897 onde sobram apenas 3 sobreviventes. Muitos homens, mulheres e crianças que não jurassem fidelidade a República eram degolados. Mas nosso interesse é mais em como as cidades estão hoje, e como preservam sua história. A chegada em Monte Santo foi na madrugado do dia 28, entramos logo para o primeiro o hotel que vimos. Um pequeno prédio na praça central da cidade.
A maioria da população de Monte Santo conhece a história de forma superficial e existe um forte debate sobre se os combatentes de Canudos estavam certos em resistir até a morte ou deveriam ter se entregado. Existe em Monte Santo um museu para registrar a história da guerra e outros acontecimentos, como a queda do maior meteorito do Brasil ali naquela região. Um famoso filme foi gravado na região (Deus e o Diabo na terra do Sol) deu ênfase a um roteiro da cidade que ainda é o destino da maioria dos visitantes da cidade. A igreja “Santíssimo Coração de Jesus de Nossa Senhora da Conceição de Monte Santo”, chamada de Santuário em cima de um morro. Os romeiros sobem 1km de uma estrada muito íngreme para devoção e ali depositam replicas de partes do corpo que julgam terem recebido influência divida para criarem.
A cidade vive um contraste bem gritante, como em toda Bahia, tanto social como tecnológico. Existe uma grande quantidade de Lan Houses espalhadas, mas existe também a velha tradição de carregar pessoas em caminhões, feiras, festas regadas a forró e quase sempre com algum fundo religioso. Um grande déficit de cuidados com o museu e com a preservação da história se evidência com o uso dos editais, falta de gerência cultural. No museu da cidade encontramos os editais dos pontos de cultura servindo como forro para as estantes!!!). Mas nem tudo esta perdido, existe um projeto da Universidade Estadual da Bahia, tentando fomentar o turismo pelo sertão, chamado “A caminho dos sertões de Canudos”. Pretende-se resgatar a história, a cultura, a culinária, as festas etc. O caminho é trabalhoso e demorado, mas a proposta é linda.
Gostamos da cidade, as pessoas muito atenciosas o vice-prefeito nos levou para conhecer uma festa típica da região em um distrito. Ali, como em muitas cidades pequenas, onde todos se conhecem as conversas se espalham rápido e se consegue informações e ajuda nas conversas em tomando um café ou no bar. Obrigado a Claudia que foi nossa anfitriã na cidade, a conhecemos no hotel.
Conversando sobre o CUCA e como pensamos que a entidade deve trabalhar, vimos que em geral nossas intenções convergiram. O espaço da lista do CUCA deve ser de discutir a cultura e a arte sem deixar de ver as suas relações políticas, como a arte do PIA de intervenção. Mas deixando claro que isso não significa o CUCA funcionar como uma entidade de militância, nem pensar! Tem outra lógica de unir as pessoas que querem trabalhar. Buscar criar os pontos de cultura dos CUCAs e trabalhar para que além de trabalharem em rede criem um diálogo, algumas pontes onde as comunidades externas (extensão) a universidade possa trazer seus conhecimentos e não apenas os membros do CUCA serem agentes de criação e assim gerar o PONTÃO DE CULTURA DO CUCA.
Dia 29/01
Partimos para Canudos, com muitos contratempos e depois de apenas 10 horas de atraso no ônibus chegamos. Para cidades que distam entre si cerca de 240km.A cidade possui um parque de preservação da história, que na verdade é uma parte do local onde as batalhas ocorreram à outra parte do cenário está submersa pelo açude. Quase tudo que era registro da Guerra foi levado por turistas no passado, ou encaminhado para as cidades de Monte Santo e Euclides da Cunha o que sobrou está submerso, hoje não se tem muitas relíquias materiais na cidade sobre o fato. Existe uma iniciativa de uma ong de preservar a história através de um instituto e um memorial público que se encontra em reforma.
1 – existe mais ônibus saindo para São Paulo do que para Salvador! A maioria da população já foi ou quer ir para São Paulo, ainda é um sonho.
2- A fé católica é um ponto forte, quando indagados sobre terreiros de candomblé negam a sua existência na região. Em Salvador as religiões africanas são evidentes e explicitas.
Vivi-se ali da pecuária de bode e plantações de banana. A religião católica é o principal fator de união entre o povo, a maioria das festas e cerimônias possuem elementos cristãos.
Filmagem: Rafael Gomes (SP),
Fotos :Vanessa Stropp (SP) e Guilherme Almeida (Cuiabá)
Texto: Guilherme Almeida (Cuiabá)
Janeiro de 2009
Realização: CUCA Cuiabá e CUCA SP
Obs: Este é apenas um primeiro relato, o material será editado com cuidado e ficará como documento do CUCA.
Estabelecemos sem muito planejamento (quase nenhum na verdade) uma viagem para o sertão, a fim de reconhecer uma realidade diversa da turística exportada pelo mundo a fora do litoral baiano. O tema abordado foi a Guerra de Canudos. Esta viagem foi para dar continuidade ao tema da Bienal e também para estabelecer uma proximidade entre os cuqueiros mochileiros do sertão. A idéia foi do Rafael que estava cansado de Salvador e queria parceiros para uma aventura com sabor de sertão.
Dia 27/01
A viagem se inicia saindo de Salvador para Monte Santo. A viagem começa na hora, sem atrasos, até que 1h e 32minutos da saída o pneu do ônibus fura. Começam os atrasos e as dificuldades da viagem, as perturbações foram apenas os transportes da região. As cidades que tiveram participação na Guerra foram: Monte Santo, Uauá, Euclides da Cunha e Canudos. Monte Santo é a cidade onde as tropas do Exército da República de alojaram antes do massacre.
A Guerra ou Massacre de canudos é um das histórias mais fortes do país, pois uma população pacata e rural que se une em volta de um visionário, Antonio Conselheiro que por motivos religiosos e sócio-econômicos e políticos se desentendem com as autoridades que os acusaram de monarquistas. A Guerra se dá entre 1896 e 1897, acabando em 5 de outubro de 1897 onde sobram apenas 3 sobreviventes. Muitos homens, mulheres e crianças que não jurassem fidelidade a República eram degolados. Mas nosso interesse é mais em como as cidades estão hoje, e como preservam sua história. A chegada em Monte Santo foi na madrugado do dia 28, entramos logo para o primeiro o hotel que vimos. Um pequeno prédio na praça central da cidade.
A maioria da população de Monte Santo conhece a história de forma superficial e existe um forte debate sobre se os combatentes de Canudos estavam certos em resistir até a morte ou deveriam ter se entregado. Existe em Monte Santo um museu para registrar a história da guerra e outros acontecimentos, como a queda do maior meteorito do Brasil ali naquela região. Um famoso filme foi gravado na região (Deus e o Diabo na terra do Sol) deu ênfase a um roteiro da cidade que ainda é o destino da maioria dos visitantes da cidade. A igreja “Santíssimo Coração de Jesus de Nossa Senhora da Conceição de Monte Santo”, chamada de Santuário em cima de um morro. Os romeiros sobem 1km de uma estrada muito íngreme para devoção e ali depositam replicas de partes do corpo que julgam terem recebido influência divida para criarem.
A cidade vive um contraste bem gritante, como em toda Bahia, tanto social como tecnológico. Existe uma grande quantidade de Lan Houses espalhadas, mas existe também a velha tradição de carregar pessoas em caminhões, feiras, festas regadas a forró e quase sempre com algum fundo religioso. Um grande déficit de cuidados com o museu e com a preservação da história se evidência com o uso dos editais, falta de gerência cultural. No museu da cidade encontramos os editais dos pontos de cultura servindo como forro para as estantes!!!). Mas nem tudo esta perdido, existe um projeto da Universidade Estadual da Bahia, tentando fomentar o turismo pelo sertão, chamado “A caminho dos sertões de Canudos”. Pretende-se resgatar a história, a cultura, a culinária, as festas etc. O caminho é trabalhoso e demorado, mas a proposta é linda.
Gostamos da cidade, as pessoas muito atenciosas o vice-prefeito nos levou para conhecer uma festa típica da região em um distrito. Ali, como em muitas cidades pequenas, onde todos se conhecem as conversas se espalham rápido e se consegue informações e ajuda nas conversas em tomando um café ou no bar. Obrigado a Claudia que foi nossa anfitriã na cidade, a conhecemos no hotel.
Conversando sobre o CUCA e como pensamos que a entidade deve trabalhar, vimos que em geral nossas intenções convergiram. O espaço da lista do CUCA deve ser de discutir a cultura e a arte sem deixar de ver as suas relações políticas, como a arte do PIA de intervenção. Mas deixando claro que isso não significa o CUCA funcionar como uma entidade de militância, nem pensar! Tem outra lógica de unir as pessoas que querem trabalhar. Buscar criar os pontos de cultura dos CUCAs e trabalhar para que além de trabalharem em rede criem um diálogo, algumas pontes onde as comunidades externas (extensão) a universidade possa trazer seus conhecimentos e não apenas os membros do CUCA serem agentes de criação e assim gerar o PONTÃO DE CULTURA DO CUCA.
Dia 29/01
Partimos para Canudos, com muitos contratempos e depois de apenas 10 horas de atraso no ônibus chegamos. Para cidades que distam entre si cerca de 240km.A cidade possui um parque de preservação da história, que na verdade é uma parte do local onde as batalhas ocorreram à outra parte do cenário está submersa pelo açude. Quase tudo que era registro da Guerra foi levado por turistas no passado, ou encaminhado para as cidades de Monte Santo e Euclides da Cunha o que sobrou está submerso, hoje não se tem muitas relíquias materiais na cidade sobre o fato. Existe uma iniciativa de uma ong de preservar a história através de um instituto e um memorial público que se encontra em reforma.
Para atender aos turistas, a cidade em geral é precária, mas se sente bem o calor, o jeito do sertanista, o clima seco, o valor especial a água do açude e a feira chama muita atenção, é o ápice da semana. Na feira você come às 8h buchada de bode ou pirão feito dos ossos do bode. Conseguimos um guia nota 1.000 o rapaz tinha um conhecimento muito bom e vontade de ensinar o que sabia. A cidade é pequena e sofre com a briga pelo cargo de prefeito que está na justiça se será ou não casado. Existe um abismo entre o litoral em geral e os sertanistas. Parece que eles estão a mil anos luz de distância:
2- A fé católica é um ponto forte, quando indagados sobre terreiros de candomblé negam a sua existência na região. Em Salvador as religiões africanas são evidentes e explicitas.
Vivi-se ali da pecuária de bode e plantações de banana. A religião católica é o principal fator de união entre o povo, a maioria das festas e cerimônias possuem elementos cristãos.
Filmagem: Rafael Gomes (SP),
Fotos :Vanessa Stropp (SP) e Guilherme Almeida (Cuiabá)
Texto: Guilherme Almeida (Cuiabá)
Janeiro de 2009
Realização: CUCA Cuiabá e CUCA SP
Obs: Este é apenas um primeiro relato, o material será editado com cuidado e ficará como documento do CUCA.
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